quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Programa Cinema e Som - O Pagador de Promessas

A produção nacional de 1962, O Pagador de Promessas, é o único filme brasileiro a vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A direção e roteiro são de Anselmo Duarte, com base na obra homônima de Dias Gomes para o teatro.

O filme conta a trajetória de Zé do Burro, homem simples, católico, do interior da Bahia, vivido por Leonardo Villar. Após seu companheiro, o burro Nicolau, ser atingido gravemente por um raio, Zé resolve ir a um terreiro de candomblé e fazer promessa pela cura do animal para Inãnça, a Santa Bárbara dos católicos. Com a graça alcançada, Zé do Burro começa a peregrinação para cumprir o prometido: deveria partir de sua casa até Salvador, carregando uma pesada cruz nos ombros, e depositá-la aos pés da imagem na Igreja de Santa Bárbara. Deveria também repartir parte de suas terras com outros moradores rurais. Ingênuo, mas determinado, Zé do Burro não contava com a intransigência de Padre Olavo, que ao saber da promessa realizada em um terreiro de candomblé proíbe o devoto de entrar na Igreja, acusando-o de pacto com o diabo. Ao lado da mulher Rosa, Zé do Burro passa a enfrentar diversas dificuldades ao se recusar a abandonar a promessa. O homem torna-se vítima da mídia e é acusado de rebeldia pela polícia.

O Pagador de Promessas, quase inteiramente filmado na escadaria da Igreja do Santíssimo Sacramento, em Salvador, é um retrato do regionalismo brasileiro, com seus valores, cultura e conflitos. Aborda questões políticas, ao sugerir a associação de Zé ao comunismo e à reforma agrária; revela o sincretismo religioso ao unir em um mesmo contexto católicos e adeptos do candomblé em devoção à santa; valoriza a cultura dos negros ao apresentar a capoeira, música e dança africanas; expõe a intolerância religiosa, a manipulação midiática na distorção da realidade e a violência policial que culmina com um desfecho trágico e irônico.

No elenco, ainda Glória Menezes, interpretando Rosa, Dionísio Azevedo, como Padre Olavo, Geraldo Del Rey como o inescrupuloso Bonitão, Norma Bengell, a prostituta Marli, e Othon Bastos, como repórter. Como exemplo do cinema novo brasileiro, O Pagador de Promessas foi transformado em minissérie no ano de 1988, pela Rede Globo, protagonizado por José Mayer. A produção conquistou ainda o prêmio especial do júri no Festival do Filme de Cartagena e as categorias de melhor filme e melhor trilha sonora no Festival Internacional de São Francisco.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)

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