segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Programa Cinema e Som - Narradores de Javé


A produção nacional Narradores de Javé, de 2003, tem direção de Eliane Caffé, que também assina o roteiro ao lado de Luiz Alberto de Abreu. O drama, com muitas doses de humor, conta a saga dos moradores da pequena Javé ameaçada de ser inundada devido à construção de uma hidrelétrica. Para evitar a destruição do fictício vilarejo baiano, eles devem elaborar um documento de cunho científico sobre a grande história de seu povo que justifique a permanência da região. É assim que os moradores irão recorrer ao malandro Antônio Biá, ex-funcionário dos correios, desafeto de muitos por mentiras contadas no passado, mas único morador de Javé alfabetizado e capaz de escrever.

Biá, personagem de José Dumont, deverá ouvir o maior número possível de moradores e unir todos os registros em um só livro. Assim, serão inúmeras memórias e diferentes versões da verdade em uma divertida construção do tão desejado patrimônio histórico de Javé. No elenco, outros importantes nomes do cinema nacional como Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele, Luci Pereira, Rui Resende e Gero Camilo.

Dentre muitas conquistas nacionais e internacionais, Narradores de Javé foi premiado nas categorias de melhor roteiro original e melhor ator coadjuvante para Gero Camilo no Grande Prêmio Cinema Brasil, melhor filme e direção no Festival do Audiovisual do Cine Pernambuco, e melhor filme independente e melhor roteiro no 30º Festival Internacional do Filme Independente de Bruxelas.

Por Rafaella Arruda
(Programa Cinema e Som - ELOFM)



terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Palhaço


A comédia dramática O Palhaço, de 2011, encanta pela simplicidade. O filme nos coloca em contato com a arte circense, mas mais do que isso, nos coloca em contato com a emoção do artista, dentro e fora dos palcos. Selton Mello, responsável pela direção e roteiro do filme, é o palhaço Pangaré, que junto com o pai, o Palhaço Puro Sangue, interpretado por Paulo José, mantém o itinerante Circo Esperança. Além destes, cerca de outros 10 artistas fazem parte da trupe onde todos fazem de tudo, desde a montagem da tenda até a iluminação dos espetáculos. Ao acompanhar as divertidas apresentações e as viagens do grupo pelas estradas de Minas Gerais, identificamos as dificuldades financeiras e os anseios por melhoras modestas, como o pedido por um sutiã novo. Ainda assim, sentimos predominar a alegria e união entre os artistas e a dedicação em fazerem o que gostam.

Pangaré, por outro lado, referência e espécie de conselheiro do grupo, mantém-se firme no palco, mas fora dele não revela alegria no olhar. Sentimento sugerido pela própria maquiagem que, propositadamente, insiste em lhe conferir uma lágrima. O humilde e bondoso palhaço angustia-se pela realização de pequenos desejos, como a emissão da carteira de identidade e a compra de um ventilador. A certidão de nascimento, único registro disponível, encontra-se velha e insuficiente nos momentos em que mais precisa. O ventilador, caro e inacessível. Ambos símbolos de algo maior para um artista que, melancólico, questiona a própria identidade, sem entender a vocação de fazer rir, e que sente o peso da responsabilidade perante o grupo, como se realmente lhe faltasse paz e tranquilidade, como se de fato lhe faltasse o ar.

Exemplos disso são as alucinações de Pangaré diante de um ventilador, imaginário ou não, e as repetidas cenas em que, sozinho na cama, enquadrado em plongé e plano fechado, parece não conseguir se acomodar, sem encontrar uma posição confortável. Mesmo nestas situações de angústia, o brilhantismo de Selton Mello confere irreverência em cada cena. Um trabalho perfeito ao mesclar adequadamente a tristeza a trejeitos incomuns, sotaques, falas arrastadas, expressões faciais quase infantis e exagero sentimental.

Neste cenário, O Palhaço mistura situações de humor e outras altamente emotivas, conduzidas por uma trilha sonora com sons que sugerem o lúdico, o campo e a natureza, além de uma fotografia predominantemente focada em cores leves e com cenas gravadas pela manhã, o que contribui para a atmosfera suave da obra. As cenas à noite acabam por revelar situações mais angustiantes e tumultuadas, como aquelas ligadas à briga e traição, mas também são o palco para a alegria dos espetáculos.

Entre figurantes, protagonistas e personagens com passagens marcantes, mas breves, as idas e vindas do Circo Esperança nos conduzem em uma agradável caminhada. No caminho da trupe, destaques como o hilário delegado vivido por Moacyr Franco, que divaga intermitentemente para demonstrar a insatisfação de estar na delegacia e não em casa cuidando do gato de estimação, além do experiente interiorano vivido por Jackson Antunes que, longe do humor, transmite belas mensagens ao grupo.

Uma destas mensagens, inclusive, será a chave para o despertar de Pangaré. Desassossegado, com uma inquietação crescente no ambiente do circo, o palhaço parte em busca do que nem mesmo ele sabe o que é, mas acredita precisar encontrar. Em um dos pontos altos do filme, quando, junto a Pangaré, nos distanciamos da trupe e dos espetáculos, entendemos a certeza que faltava ao artista: o valor de fazer o outro sorrir. Em uma belíssima cena em que, ao ouvir um piadista, compreende essa verdade e ensaia finalmente um sorriso verdadeiro, Pangaré retoma a esperança. E como no próprio circo, também reanimado pela presença de uma criança, dá lugar a uma nova vida.

Por Rafaella Arruda

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Programa Cinema e Som - Robert de Niro

Robert De Niro: um dos mais consagrados atores da história do cinema. O nova iorquino nascido em 1943 já estrelou mais de 80 filmes de diversos gêneros além de conquistar cerca de 30 premiações, entre elas Dois Oscars, Dois Globos de Ouro e quatro prêmios pela Associação de Críticos de Nova York. Robert De Niro descobriu a paixão por atuar ainda criança e aos 16 abandonou a escola para estudar interpretação no Conservatório Stella Adler. Logo depois, na célebre escola Actors Studio, através do Method Acting, De Niro refinou seu talento. Como resultado, uma carreira marcada pelo comprometimento físico e psicológico com cada papel, o que os tornou, em grande parte, memoráveis.

Como exemplo, para viver o personagem Travis Bickle, em Taxi Driver, Robert De Niro trabalhou como taxista pelas ruas de Nova York durante algumas semanas, assim como ganhou peso e aprendeu a lutar boxe para interpretar o lutador Jake La Motta, em Touro Indomável, que lhe garantiu o Oscar como melhor ator, e teve aulas de saxofone para atuar no drama musical New York New York. Três produções dirigidas por Martin Scorsese, com quem De Niro trabalharia também em Caminhos Perigosos, O Rei da Comédia, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo e Cassino. Ainda, para viver o jovem Vito Corleone em O Poderoso Chefão II, de 1974, o ator aprendeu o dialeto siciliano, papel que lhe valeu o prêmio da Academia como coadjuvante.

Continuando na longa lista de sucessos, os dramas O Franco Atirador, de 78, um retrato da guerra do Vietnã com direção de Michael Cimino; Os Intocáveis, de 78, de Brian de Palma, em que Robert De Niro viveu o mafioso Al Capone, e Tempo de Despertar, 3 anos depois, em que interpretou o paciente de um hospital psiquiátrico Leonard Lowe, contracenando com Robin Williams. Em comédias, alguns destaques de De Niro estão nas produções Brazil - O Filme, de 85, Fuga à Meia Noite, de 88, que lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro, Máfia no Divã, de 99, e Entrando numa Fria, de 2000, além das continuações Entrando numa Fria Maior Ainda e Entrando numa fria maior ainda com a família, já em 2004 e 2010.

Em 1989 Robert De Niro criou sua própria produtora, a Tribeca Film Center, e quatro anos depois estreou como diretor com Desafio no Bronx. Nova experiência viria em 2006, quando dirigiu Matt Damon e Angelina Jolie no suspense O Bom Pastor, indicado ao Festival de Berlim. Robert De Niro continua vivendo em Nova York com a atual esposa, a atriz Grace Hightower, com quem tem 1 filho.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Programa Cinema e Som - A primeira noite de um homem

A Primeira Noite de um Homem, comédia romântica de 1967 protagonizada pelo então estreante Dustin Hoffman, trata da vida do jovem Benjamim Braddock que aos 21 anos retorna à casa dos pais após terminar a faculdade. Sentindo-se perdido entre desconhecidos e entre seus próprios sonhos, Ben Braddock inicia uma nova fase de sua vida em meio aos cuidados excessivos da família e à descoberta do amor.

Primeiro envolve-se com a esposa do amigo de seu pai, a experiente e sedutora Mrs. Robinson, vivida por Anne Brancroft. Um relacionamento aparentemente desejável por ambos, mas que acaba gerando problemas para o inocente Ben quando ele se apaixona pela filha da amante, a bela Elaine Robinson, interpretada por Katharine Ross. Inconformada com a aproximação entre os jovens, Mrs. Robinson tenta separá-los de diversas formas. Assim, caberá a Ben lutar por seu verdadeiro amor enfrentando todos os obstáculos, como a incompreensão dos pais e a resistência da própria amada.

A primeira noite de um homem é uma agradável comédia romântica que marcou a geração jovem da década de 1960 ao abordar temas como a descoberta da sexualidade e a figura da mulher moderna e independente, além de contar com canções da dupla norte americana Simon e Garfunkel que se tornariam grandes sucessos, como Sounds of Silence e Mrs. Robinson, tema homônimo da personagem de Anne Brancroft que se tornaria célebre na história do cinema. Premiado com o Oscar de melhor direção para Mike Nichols e melhor comédia pelo Globo de Ouro, dentre tantas outras conquistas, o filme também garantiu a Dustin Hoffman sua primeira indicação à Academia como melhor ator.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)




sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Programa Cinema e Som - Glauber Rocha


O baiano Glauber Rocha, nascido em Vitória da Conquista em 1939 e morto aos 42 anos, em 1981, no Rio de Janeiro, foi um dos mais marcantes cineastas brasileiros. Quando jovem, atuou em peças na escola, participou do movimento estudantil e aos 14 já realizava um programa diário sobre cinema em uma rádio de Salvador. Estudou Direito, mas abandonou a faculdade para se dedicar ao campo do jornalismo com foco no cinema.

Estreou seu primeiro longa, Barravento, com pouco mais de 20 anos, em 1962, depois de realizar diferentes curtas metragens. O trabalho abriu caminho para produções que se tornariam marcos do Cinema Novo no Brasil, movimento que representava uma nova forma de se fazer cinema, como retrato da realidade com fortes críticas sociais. Com Deus e o Diabo na Terra do Sol, em 1964, indicado a Palma de Ouro em Cannes, Glauber Rocha abordou o sertão nordestino, com suas fragilidades, cultura e crenças. 3 anos após, com Terra em Transe, no cenário da fictícia Eldorado, Glauber Rocha mostrou novamente a condição social brasileira. Desta vez um retrato da política através de situações como o populismo, o autoritarismo e a militância. Com o filme, Glauber Rocha alcançou a segunda indicação a Palma de Ouro, além de vencer o prêmio do Festival Internacional de Críticos de Cinema e o Festival de Locarno, na Suíça.

Finalmente, com O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, em 1969, Glauber Rocha conquistou o prêmio de melhor direção em Cannes. Neste, o personagem Antônio das Mortes, matador de aluguel presente em Deus e o Diabo na Terra do Sol, deveria combater um novo líder do cangaço. O filme valeu uma terceira indicação como melhor produção em Cannes.

Glauber Rocha ainda realizou outros longas como O Leão de Sete Cabeças, em 1970, Câncer, em 1972, e A Idade da Terra, em 1979, último trabalho do cineasta, baseado em poema de Castro Alves. Dentre os diversos curtas realizados, destaque para Maranhão 66, sobre a posse do então governador eleito do Estado, José Sarney, intercalado a imagens de mazelas da população maranhense, e Di Cavalcanti, de 77, documentário sobre o pintor, ilustrista e caricaturista falecido um ano antes. O filme venceu o Prêmio do Júri como melhor curta no Festival de Cannes, além de também indicado a Palma de Ouro.

Fosse gênio ou louco, considerado subversivo pela política conservadora, e tendo sido exilado em Cuba e na Europa durante muitos anos do regime militar, o que se sabe é que Glauber Rocha inovou a história do cinema e com sua criatividade e senso crítico marcou a arte não só no Brasil, mas em diferentes partes do mundo.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)