terça-feira, 16 de agosto de 2011

Árvore da Vida

  
Árvore da Vida, drama com direção e roteiro de Terrence Malick, de 2011, é um filme sobre família e a relação do homem com Deus. A história é desencadeada a partir da morte de um dos três filhos da família O’Brien, durante a década de 1950, nos Estados Unidos. A tristeza que se abate sobre os pais, senhor e senhora O’ Brien (Brad Pitt e Jessica Chastain), e o filho mais velho, Jack (Hunter McCracken), levará a toda uma temática altamente subjetiva de questionamentos sobre a verdade divina.

Projetados às lembranças de um Jack já adulto (Sean Penn), mas não menos tocado pela tristeza e angústia desde a morte do irmão, ainda durante a adolescência, somos conduzidos à vida da família desde sua formação. O retrato é de uma família tradicional, com força na figura paterna e marcante sensibilidade maternal... Percebemos Jack desde o nascimento com a ótica de uma criança. A câmera baixa, que nos coloca a sua altura, e os planos longos em suas descobertas, como os primeiros passos e o ciúme diante do irmão recém-nascido, sensibiliza pela proximidade com seus atos e reações.

Em sua fase jovem, na convivência com os pais, irmãos e amigos, a narrativa descortina os conflitos familiares e o lado perturbador das novas experiências. Tenta-se explicar, assim, a fase presente de Jack como retrato de uma inocência perdida.

Mas o que mais encanta na direção de Malick são as reminiscências de vida apresentadas em um bloco descontínuo, permeadas por questionamentos de insatisfação diante de Deus e por visões que se assemelham a sonhos. Em um momento singular, como resposta à tragédia da perda de um filho, presenciamos um demorado espetáculo de imagens e melodia que remete às fases de criação do Universo. Cenas estrategicamente contrapostas às indagações da mãe diante do inevitável. Impossível não reagir à percebida pequenez de nossas aflições. Uma viagem consciencial que perdurará por todo o filme.

Com um desfecho tão ou mais subjetivo que a totalidade da obra, que possibilita interpretações à altura de nossos sonhos, Árvore da Vida é o espelho de uma mente comum diante da perda, saudade, frustração, arrependimento. É também essa mesma mente que, fruto ou não da criação divina, é capaz de redimir-se e libertar não só a si, mas também aqueles que mais amamos.

Por Rafaella Arruda

Programa Cinema e Som - Greta Garbo

A atriz sueca Greta Garbo atuou entre 1920 e 1941 e abandonou as telas aos 36 anos. Nascida em Estocolmo, em 1905, Garbo, ainda criança, apaixonou-se pelo cinema e costumava encenar peças nas ruas. Estreou nas telas ainda adolescente, em filmes publicitários e estudou interpretação na Academia Real de Teatro Dramático Sueco.

Realizou seus primeiros filmes, A lenda de Costa Berling e A Rua das Lágrimas, na década de 1920. Aos 19, após chamar a atenção do presidente da Metro Goldwin Mayer, Louis Mayer, Greta Garbo foi contratada pelo estúdio e mudou-se para Hollywood. Enfrentou os desafios do idioma, fez dieta, alisou os cabelos e tratou os dentes, antes de estrear seu primeiro filme norte americano, em 1926, Os Proscritos, e agradar público, crítica e os seus próprios contratantes. A partir daí, foram quase duas décadas de sucesso.

No cinema mudo, se destacou na maneira de expor suas emoções pela expressão facial, mãos e andar, e exigir menos legendas que outros atores. O longa O Beijo foi o último filme mudo de sua carreira. Depois vieram interpretações que valeram a Greta Garbo duas indicações ao Oscar. Por Anna Christie, seu primeiro filme falado, em que interpretou uma prostituta e Romance, onde foi uma cantora de ópera, ambos de 1930. De contrato renovado com a MGM e com o direito de determinar quase toda a produção de seus filmes, a atriz realizou Grande Hotel, em 1932, premiado com o Oscar de melhor filme. É nele que Garbo, interpretando uma bailarina que não acredita no amor, diz a frase que marcou sua vida pessoal I want to be alone, Eu quero estar sozinha. Ainda recebeu outras duas indicações à Academia por A Dama das Camélias, de 1936, em que vive uma cortesã, e a comédia romântica Ninotchka, de 1939.

No final dos anos 30, após Duas Vezes Meu, com direção de George Cukor, surgiram os primeiros sinais de enfraquecimento profissional de Garbo, com as críticas negativas ao filme. Fosse pela tentativa do diretor de modificar a maneira de atuar de Garbo, ou pelo próprio desejo da atriz em desistir do papel, a verdade é que ela decidiu dar um tempo em sua carreira, vindo a encerrar o contrato com a MGM em 1943.

Ainda solicitada em eventos sociais e em novas atuações, Garbo refugiou-se em Nova York, onde viveu os últimos 50 anos de vida, evitando qualquer contato com a imprensa. Faleceu de pneumonia, aos 85 anos, em 1990. A atriz que tinha pavor de multidões e se recusava a dar autógrafos e entrevistas, jamais se casou ou teve filhos. E ao receber o Prêmio Honorário do Oscar, em 1955, recusou-se a ir à cerimônia.

Apenas de nunca ter vencido um Oscar, a atriz foi premiada duas vezes pela Associação dos Críticos de Cinema de Nova Iorque. Pela atuação em Anna Karenina de 1935, e A Dama das Camélias de 36.

Por Rafaella Arruda.

(Programa Cinema e Som - ELOFM)

Programa Cinema e Som - Rocky, Um Lutador

Escrito e estrelado por Silvester Stallone, com direção de John Avildsen, o filme Rocky, Um Lutador, lançado em 1976, trata da vida de Rocky Balboa, um boxeador sem grandes ambições, de vida simples e com grande coração. Antes de ser um filme sobre boxe, é um drama sobre o homem comum, com suas fragilidades e sonhos. 

Sem grandes perspectivas na vida, Balboa vive sozinho, faz bicos para um agiota e busca conquistar Adrian, uma tímida vendedora de pet shop, irmã de seu melhor amigo Paulie. A oportunidade de mudar de vida surge quando o campeão mundial dos pesos médios, Apollo Creed, anuncia publicamente a intenção de enfrentar algum boxeador desconhecido do grande público. Na verdade, uma grande jogada de mídia. O Garanhão Italiano, nome de Balboa nos ringues, é o adversário escolhido. A disputa com Apollo é a chance de Rocky se sentir novamente um vencedor. Caberá a ele, com a ajuda do amigo e treinador Mickey, se preparar para a disputa com toda a garra e coragem possíveis. 

No elenco do filme, Talia Shire como Adrian, Burt Young, como Paulie, Burgess Meredith, como o incansável treinador de boxe, Mickey, e Carl Weathers como o campeão Apollo Creed. Rocky conquistou as premiações do Oscar e Globo de Ouro de melhor filme, além de melhor direção e montagem pela Academia. Indicações também para Stallone como roteirista e ator, feito alcançado anteriormente apenas pelos cineastas Charles Chaplin e Orson Welles. A produção coube a Robert Chartoff e Irwin Winkler, os mesmos que 4 anos depois realizariam Touro Indomável, outro filme de sucesso sobre a vida de um boxeador. 

Rocky, um Lutador, foi o primeiro de uma sequência de outros 5 filmes sobre o personagem. Em 2006, o drama Rocky Balboa, escrito, dirigido e estrelado por Silvester Stallone, fechou a franquia. 

A canção Gonna Fly, trilha de Rocky, Um Lutador é composta por Bill Conti, com letra de Carol Connors e Ayn Robbins, e interpretada por Deetta West e Nelson Pigford. Sempre embalando os árduos treinamentos de Rocky para as lutas, a melodia tornou-se um ícone cultural, foi indicada ao prêmio de melhor canção original no Oscar de 1977 e alcançou o nº 1 das paradas da Billboard no mesmo ano. Em Rocky, Um lutador, a música encerra-se com a subida do boxeador às escadas do Museu de Arte da Filadélfia, cena que se tornaria emblemática nas continuações do filme.

Algumas alterações na versão original da canção podem ser notadas nos demais filmes da série Rocky, como o acréscimo do coro de crianças em Rocky II. A melodia de Bill Conti fez tamanho sucesso, que foi usada como trilha em outros filmes, propagandas publicitárias, programas de rádio, campanha política, e é ainda hoje usada em eventos esportivos.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Programa Cinema e Som - Amores Brutos

Amores Brutos - Produção mexicana de 2000 indicada ao Oscar como melhor filme estrangeiro. O drama é dirigido e produzido pelo mexicano Alejandro González Iñarritu, responsável por outros títulos premiados como 21 Gramas, de 2003, Babel, de 2006 e o mais recente Biutiful, produção de 2010, também indicada como melhor filme em língua estrangeira pela Academia. O roteiro é de Guillermo Arriaga, parceiro de Iñarritu em produções posteriores.

Os três personagens centrais de Amores Brutos lidam com diversas dificuldades e tem em comum o envolvimento com cães, o que traduz o título original do longa, Amores Perros, algo como Amores Caninos. Os personagens Octavio, Valeria e Chivo convivem com perdas, frustração e arrependimento e enfrentam conflitos íntimos e familiares. Determinados, buscam a superação, nem que para isso tenham que violar a si mesmos e aos outros.

A narrativa une essas três histórias a partir de um trágico acidente de carro que transforma radicalmente os destinos dos personagens. Cada vida retratada expõe simultaneamente a brutalidade e fragilidade humana. Ao mesmo tempo, a crueldade feroz no relacionamento com os animais intercala exemplos de compaixão e dedicação extremas.

O jovem Octavio, a bela modelo Valeria e o ex-guerrilheiro El Chivo são vividos por Gael García Bernal, Goya Toledo e Emilio Echevarría. As interpretações atraem pela emotividade e são pontos altos da trama.

Dentre dezenas de indicações e premiações, Amores Brutos conquistou, em 2002, a categoria de melhor filme estrangeiro pelo BAFTA, espécie de Oscar Britânico. Em Cannes, o diretor Alejandro Iñarritu conquistou o prêmio da crítica e teve seu filme aclamado como melhor produção também pela crítica jovem. Como primeiro longa metragem produzido em sua carreira, Amores Brutos rendeu a Iñarritu a atenção internacional e o projetou para outros sucessos.

A trilha sonora original do filme é conduzida pelo premiado músico argentino Gustavo Santaolalla. A trilha conta ainda com canções da banda mexicana de hip hop, Control Machete.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som – ELOFM)

Programa Cinema e Som - Touro Indomável

Touro Indomável - Clássico norte americano de 1980 considerado uma das referências do cinema da década. O longa, com direção de Martin Scorsese e produção de Robert Chartoff e Irwin Winkler, conta a história real do lutador de boxe Jake La Motta. O roteiro é de Paul Schrader e Mardik Martin, baseado em livro escrito pelo próprio La Motta, além de Joseph Carter e Peter Savage.

Touro Indomável é protagonizado por Robert De Niro no papel do pugilista peso médio Jake La Motta, que colecionou grandes vitórias nos ringues e uma vida pessoal repleta de desregramentos e problemas emocionais. Para interpretar o touro do Bronx, como era conhecido La Motta, Robert De Niro treinou boxe com o próprio pugilista, além de ter engordado 25 quilos para interpretá-lo após o fim de sua carreira de lutador.

Filmado em preto e branco, de forma a garantir maior realismo às cenas, Touro Indomável foi premiado com o Oscar de melhor ator para De Niro e melhor edição para Thelma Schoonmaker, além de ter sido indicado pela Academia em outras seis categorias, assim como pelo Globo de Ouro. O filme, considerado por parceria Scorsese e De Niro, tem ainda no elenco Cathy Moriarty, interpretando a mulher do lutador, Vicky La Motta, e Joe Pesci como Joey La Motta, irmão do pugilista. Ambos indicados ao Oscar e Globo de Ouro nas categorias de ator coadjuvante.

A trilha sonora, com edição de Jim Henrikson, alterna trechos da ópera Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, com canções populares, como a brasileira Não tenho lágrimas, de 1937, interpretada por Patrício Teixeira.

Por Rafaella Arruda


(Programa Cinema e Som - ELOFM)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Programa Cinema e Som - O Pagador de Promessas

A produção nacional de 1962, O Pagador de Promessas, é o único filme brasileiro a vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes, além de indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A direção e roteiro são de Anselmo Duarte, com base na obra homônima de Dias Gomes para o teatro.

O filme conta a trajetória de Zé do Burro, homem simples, católico, do interior da Bahia, vivido por Leonardo Villar. Após seu companheiro, o burro Nicolau, ser atingido gravemente por um raio, Zé resolve ir a um terreiro de candomblé e fazer promessa pela cura do animal para Inãnça, a Santa Bárbara dos católicos. Com a graça alcançada, Zé do Burro começa a peregrinação para cumprir o prometido: deveria partir de sua casa até Salvador, carregando uma pesada cruz nos ombros, e depositá-la aos pés da imagem na Igreja de Santa Bárbara. Deveria também repartir parte de suas terras com outros moradores rurais. Ingênuo, mas determinado, Zé do Burro não contava com a intransigência de Padre Olavo, que ao saber da promessa realizada em um terreiro de candomblé proíbe o devoto de entrar na Igreja, acusando-o de pacto com o diabo. Ao lado da mulher Rosa, Zé do Burro passa a enfrentar diversas dificuldades ao se recusar a abandonar a promessa. O homem torna-se vítima da mídia e é acusado de rebeldia pela polícia.

O Pagador de Promessas, quase inteiramente filmado na escadaria da Igreja do Santíssimo Sacramento, em Salvador, é um retrato do regionalismo brasileiro, com seus valores, cultura e conflitos. Aborda questões políticas, ao sugerir a associação de Zé ao comunismo e à reforma agrária; revela o sincretismo religioso ao unir em um mesmo contexto católicos e adeptos do candomblé em devoção à santa; valoriza a cultura dos negros ao apresentar a capoeira, música e dança africanas; expõe a intolerância religiosa, a manipulação midiática na distorção da realidade e a violência policial que culmina com um desfecho trágico e irônico.

No elenco, ainda Glória Menezes, interpretando Rosa, Dionísio Azevedo, como Padre Olavo, Geraldo Del Rey como o inescrupuloso Bonitão, Norma Bengell, a prostituta Marli, e Othon Bastos, como repórter. Como exemplo do cinema novo brasileiro, O Pagador de Promessas foi transformado em minissérie no ano de 1988, pela Rede Globo, protagonizado por José Mayer. A produção conquistou ainda o prêmio especial do júri no Festival do Filme de Cartagena e as categorias de melhor filme e melhor trilha sonora no Festival Internacional de São Francisco.

Por Rafaella Arruda

(Programa Cinema e Som - ELOFM)