A hora mais escura (2012) é um exemplo de que nem sempre
conhecer o desfecho de uma história representa saber a emoção de sua
trajetória.
O filme,
da premiada diretora Katryn Bigelow, conta a longa jornada do serviço de
inteligência e segurança norte americano em busca do temido líder da Al-Qaeda,
Osama Bin Laden. Centrada na figura da agente Maya, interpretada com
brilhantismo por Jessica Chastain, a caçada tem início no pós 11 de setembro de
2001 e atravessa a década permeada por acontecimentos marcantes, até culminar
com a captura do líder, em maio de 2011.
As cenas
iniciais em uma sala de tortura já antecipam a densidade e realismo das
situações que virão ao longo da trama. A aparentemente sensível e insegura Maya
que, a princípio, quase chora com a agonia do prisioneiro e parece chocar-se
com os métodos utilizados pelos colegas de serviço, assume gradualmente tamanha
obstinação diante dos fatos que se torna fascinante acompanhar a força de sua
personalidade, a falta de temor e a inteligência com que conduz todo o trabalho
que lhe cabe. Em meio a horas mal dormidas, má alimentação e parca vaidade,
Maya empreende sua busca por Osama Bin Laden lançando mão de todos os métodos
que julga válidos: depoimentos, torturas, gravações de áudio e som, escutas,
perseguições, mapas, fotos e instinto. Em ambientes onde prevalece de forma
massacrante a figura masculina, seja nas cúpulas burocráticas da política norte
americana, na CIA ou no Comando Naval de Operações Especiais, Maya se impõe
pela confiança de "100%".
Com
movimentos amplos de câmera que viajam nos cenários naturais e direção de arte que
recria com perfeição vilarejos e esconderijos no Oriente Médio, “A Hora mais
escura” nos mergulha no realismo de confins islâmicos, para muitos, apenas
parte de um imaginário distante. Da mesma forma, ao considerar aspectos da
crença e sociedade orientais, o filme nos liga também àqueles personagens
desconhecidos. Impossível desconsiderar a fidelidade de prisioneiros torturados
ao ideal de guerra, o desespero das mulheres e crianças de Bin Laden ao
perceberem a ameaça ao seu líder, ou a emoção de um dos membros da defesa
americana ao visualizar corpos de seus descendentes islâmicos.
Com uma
narrativa bem amarrada que contempla com objetividade e fluidez a complexa rede
de acontecimentos e personagens presentes ao longo de quase 1 década, somos
levados aos bastidores de Bush, Obama e Osama. Ainda assim, muito além deles.
As sequências de ação, que parecem trazer sons vindos de todos os lugares,
fazem temer o já aguardado. Ataques terroristas, como os ocorridos na Turquia e
em Londres, apesar de conhecidos, são apresentados de forma inesperada. Ainda, ao
acompanharmos a chegada de supostos delatores da Al Qaeda a uma base militar
americana, em meio a boas expectativas e olhares apreensivos, a sensação é de
ameaça constante.
Finalmente, na tão aguardada sequência da
captura do líder terrorista pelo Comando Naval, aspectos de uma estratégia
minuciosamente técnica, mas ainda assim tensa e emocional. No avanço pelo refúgio
do líder islâmico, não faltam disparos, bombas, portas, choros e escuridão. Em
uma direção genial, que expõe Bin Laden da forma mais realista e sutil que
poderia supor, temos o desfecho que abalou o mundo.
E assim como é incerto saber se a morte “daquele
mais temido” mudará, de fato, o curso da história, torna-se incerto também
entender o sentimento de Maya quando, finalmente, chora ao fazer cumprida sua
missão. Talvez, a hora mais escura esteja apenas começando.
Por Rafaella Arruda
Filmaço! E realmente, a trajetória dos acontecimentos até o desfecho é contada de uma maneira fascinante. Bela análise!
ResponderExcluir