quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Clássicos em cartaz

Importantes obras do cinema mundial exibidos no Cine Humberto Mauro
Já imaginou ter a oportunidade de rever grandes clássicos da sétima arte, dos mais variados gêneros, nacionalidades e épocas, em uma sala de cinema e com entrada franca? E ainda com a participação de especialistas ao final de cada sessão? É essa a proposta da Mostra de História Permanente do Cinema do Cine Humberto Mauro, localizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Todas as quintas-feiras, a partir das 17h, obras decisivas do cinema são revisitadas nos telões e na sala escura. Sempre comentadas por pesquisadores, críticos e professores.

A Mostra, exibida no Palácio das Artes desde 2010 e programação rotineira de cinéfilos, foi inspirada em sessão de mesmo nome realizada pela Cinemateca Portuguesa. De acordo com o gerente de programação do Cine Humberto Mauro e também crítico e professor de cinema, Rafael Ciccarini, 32 anos, a participação de comentaristas, incluída a partir de agosto de 2011, tem o intuito de acrescentar valor ao projeto, adequando-se à política de formação do Cine Humberto Mauro. A ideia é que, uma vez terminado o filme, o público possa ouvir sobre ele e estender aquela experiência, com a possibilidade de relacionar informações ao que já foi dito em exibições anteriores. “O público que freqüenta a Mostra vai acumulando esse conhecimento e acaba, mesmo que lentamente, se formando na história do cinema”, destaca Rafael.


Crédito: Paulo Lacerda
Para o gerente de programação do Cine Humberto Mauro, Rafael Ciccarini, os comentários auxiliam na formação do público.

Riqueza pela diversidade

Os filmes presentes na Mostra não seguem uma linearidade de datas ou tendências, uma vez que não há a preocupação de se obedecer a um ordenamento, dada a reconhecida importância de todas as produções. Entre elas, obras realizadas até a década de 1980, norte americanas, brasileiras e europeias, dos gêneros drama, faroeste, terror e comédia, entre outros. Segundo Rafael Ciccarini, a proposta é exatamente demonstrar a riqueza e diversidade da história do cinema, destacando como ela é complexa e contraditória em si. Portanto, dificilmente passível de linearização. O gerente de programação explica ainda ser desnecessária a exibição sequenciada, pois pode transmitir ao público a ideia de que, uma vez perdida alguma sessão, não se torna mais possível assistir a outra: “Não há isso. A pessoa pode ir a um filme, faltar e voltar no outro. Ao mesmo tempo tenta-se achar elos, mesmo que esses se deem por contrariedades.”

Produções como o clássico do terror O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, de 1968, e a animação Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937, exibidos na Mostra, demonstram a diversidade do projeto e sua capacidade de atender diferentes espectadores. Além dos filmes individuais, a Mostra de História Permanente do Cinema exibe também sessões especiais que atraem grande atenção do público. Como exemplo, Rafael Ciccarini destaca a Trilogia do Silêncio com produções do cineasta sueco Ingmar Bergman exibidas em uma única quinta-feira durante o mês de setembro. Na ocasião, os filmes Através de um Espelho, de 1961, Luz de Inverno e O Silêncio, ambos de 1963, foram comentados pelo escritor e ensaísta Mário Alves Coutinho. Outra sessão exibida em outubro, com comentários do próprio Rafael Ciccarini, foi o especial O Jovem Kubrick, com filmes dirigidos e escritos pelo cineasta norte americano Stanley Kubrick na década de 1950: A Morte Passou Perto, O Grande Golpe, e Glória Feita de Sangue.

Sessões comentadas
A dinâmica dos comentários após as sessões busca distanciar-se do clichê, do lugar comum de análise dos filmes. Os comentaristas são escolhidos pelo interesse e conhecimento que possuem sobre a obra, tema ou diretor, e devem transmitir um pensamento original sobre o assunto. A proposta é falar de cinema, sobre a forma como o diretor aborda tal temática e o que o filme possui de transgressor em termos de linguagem cinematográfica, por exemplo. Um dos especialistas convidados da Mostra no mês de setembro foi o jornalista e crítico de cinema, Marcelo Miranda, 30 anos. Ele esteve presente durante a exibição de O Franco Atirador, produção de 1978 dirigida por Michael Cimino. Destacou aspectos técnicos, tendências do diretor e também estabeleceu paralelo com outras produções. Para Marcelo Miranda, dada a proposta do Cine Humberto Mauro de possibilitar ao público construir um conhecimento menos ditado pela indústria cinematográfica, a Mostra de História Permanente do Cinema é fundamental e muito coerente. “Ela viabiliza formadores de opinião, permite reflexão. O comentário após as sessões é essencial, porque compartilha experiência, o que torna a sessão ainda mais imperdível”, declara o crítico.

Ainda para o jornalista e professor de cinema Nísio Teixeira, 41 anos, também presente à Mostra para o comentário do filme norte americano Johnny Guitar, de 1954, a experiência foi muito válida. Para ele, “a iniciativa é muito boa porque ajuda a criar público e a envolver mais pessoas com o cinema”. Esse é, segundo Rafael Ciccarini, um dos principais objetivos das exibições. A tendência que se percebe é de pessoas que sempre retornam às sessões com novas percepções e questionamentos. “Quem gosta de cinema vai se fascinando, quer buscar mais. A pessoa sai de lá e vai assistir a obras citadas, atores e diretores, vai concordar, vai discordar. Isso é muito comum”, explica Rafael.

Um destes espectadores sempre presente à Mostra é o porteiro Salvador Pires, 60 anos. Para Salvador, que confessa preferir os filmes antigos por terem mais qualidade e expressão no cinema, como são os exibidos no Cine Humberto Mauro, os comentários após as sessões são uma grande oportunidade de aprendizado: “Aprendemos e vemos o filme com mais qualidade”, admite. De acordo com o crítico de cinema Jefferson Assunção, 23 anos, também frequente às sessões e responsável pelos comentários sobre o faroeste norte americano No Tempo das Diligências, de 1939, exibido em setembro, a iniciativa vale pela difusão dos filmes, além de fazer o público pensar e acrescentar conhecimento.

A Mostra de História Permanente é assim uma importante oportunidade a todos aqueles que apreciam a produção cinematográfica. Uma chance de rever obras consagradas no ambiente mais propício a este tipo de arte: a sala de cinema. Para fascinar-se e refletir.

Mostra História Permanente do Cinema
Dia e Horário: Todas as quintas-feiras, a partir das 17h
Local: Cine Humberto Mauro – Avenida Afonso Pena 1537 Centro – Belo Horizonte
Entrada gratuita com retirada dos ingressos 30 minutos antes das sessões
Informações: (31) 3236-7400 - Site: http://www.fcs.mg.gov.br/


Crédito: Rafaella Arruda
Com entrada franca, o Cine Humberto Mauro exibe todas as quintas-feiras grandes clássicos da 7ª arte.


Cine Humberto Mauro:
Inaugurado em outubro de 1978, o Cine Humberto Mauro dedica-se à formação de público através da promoção regular de mostras, festivais e lançamento de filmes, assim como de cursos de cinema, debates, palestras e seminários relacionados à produção cinematográfica mundial. Além das produções não exibidas no circuito comercial, o Cine Humberto Mauro sedia alguns dos principais festivais da cidade, como o Festival Internacional de Curtas-Metragens de Belo Horizonte, e recebe também exibições e itinerâncias de eventos como INDIE – Mostra de Cinema Mundial; e o CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre. Semanalmente, o Cine Humberto Mauro apresenta ainda dois programas de exibição de vídeos e curtas, o Cineclube Curta Circuito, promovido pela Associação Curta Minas, e a Mostravídeo Itaú Cultural, realizada pelo Instituto Itaú Cultural, ambos com entrada franca.

 Programação Novembro:
Dia 03/11 - A Embriaguez do Sucesso (1957, EUA) – Drama
Direção de Alexander Mackendrick
Comentário: Thiago Macedo

Dia 10/11 - O Pássaro das Plumas de Cristal (1969, Alemanha, Itália) – Suspense
Direção de Dario Argento
Comentário: Flávio Von Sperling

Dia 17/11 - Wheather Diary 1 (1986, EUA) – Documentário
Direção de George Kuchar
Comentário: Lucas Bambozzi


Por Rafaella Arruda

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