sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Separação



O drama iraniano A Separação (2011) é um belo, tenso e emocionante retrato da vida comum. Em meio a um dilema afetivo, mais marcado pelo conflito de interesses do que pela falta de sentimentos, o casal Simin e Nader resolve se separar. Ela pretende mudar-se do Irã e começar uma nova vida ao lado do marido e da filha Termeh, de 11 anos. Ele, dedicado ao pai que sofre de Alzheimer, recusa-se a abandoná-lo para acompanhar a esposa, assim como se nega a aceitar a partida da filha. O impasse, que vê na separação a única saída, torna-se o ponto de partida para uma nova realidade. Longe da esposa e tendo que se dedicar ao pai, de 80 anos, e aos cuidados de sua filha, Nader contrata Razieh, uma mulher a quem caberá os serviços domésticos e os cuidados do idoso durante sua ausência. Uma árdua tarefa que levará a batalhadora e dedicada mulher a enfrentar seus limites... Após um incidente no trabalho, Razieh, Nader e suas respectivas famílias enfrentarão novos impasses, colocando em jogo questões envolvendo dignidade, família e religião.

O uso frequente de câmera subjetiva e planos fechados, que quase não nos permite perceber os ambientes em sua totalidade, enquanto enfatiza a expressão dos atores, cria uma sensação de proximidade do espectador com os personagens e suas aflições. A captura constante de particularidades dos cenários domésticos, como porta, janelas e escadas, também nos aproxima da vida daqueles que são representados, criando uma intimidade entre nós e o ambiente, como se também fizemos parte daquela rotina. Nas situações de angústia e tensão, por exemplo, somos também acuados, como durante os tantos diálogos intensos, praticamente sem pausas. Mas A Separação é, antes de tudo, um filme marcado pela sensibilidade, pela naturalidade das emoções tão bem transmitidas pelos atores.

Os personagens, cada um com seu destacado valor (incrível perceber como cada uma das estórias representadas assume uma importância para a narrativa), são fortes, e ao mesmo tempo frágeis. Como Nader, homem honesto, dedicado e atencioso que em momento decisivo se encoleriza, acusa, agride... E Razieh, zelosa, decente, compreensiva e temente a seu Deus, mas que se precipita ao acusar sem certezas. Indivíduos que se sacrificam e se perdem em suas fragilidades. Do outro lado, as doces crianças Termeh e Somayeh, que não menos se sacrificam, e que, em sua pureza e inocência, enfrentam as dificuldades da vida sem escudos. Perceber o choro da menina Termeh, ao surpreender a aparente morte do avô, ou da pequena Somayeh, no desespero de presenciar o sofrimento da mãe, são situações que emocionam tanto quanto o choro de Nader na luta para cuidar do pai ou de Razieh, que implora perdão para conseguir a liberdade do marido. Situações magistralmente conduzidas e que exalam verdade.

Mas o importante é que a produção iraniana A Separação não é um retrato pessimista da vida. É sim, apenas, um retrato da realidade, com todos seus dilemas. Talvez tão perfeitamente transpostos mesmo para nossa tão distinta realidade Ocidental. Um mundo de homens comuns permeado pelo conflito de valores como família, religião, educação e respeito próprio. Onde se relacionam pais e filhos, senhores e empregados, crianças e idosos.

No filme, a sensação é de que, apesar das dificuldades, no fim, sobressaem os bons valores. A moral, e não a decadência. E como forma de trazer esse questionamento a nós mesmos, temos a estratégica cena final em que se retoma a situação da “separação”. Seríamos capazes, estando no lugar do personagem, de decidir pelo melhor caminho? Com quem ou pelo quê ficaríamos? É com essa pergunta que abandonamos a tela... Procurando respostas. Pensando sobre as dificuldades do mundo, mas principalmente, sobre nossa postura diante delas.

Por Rafaella Arruda

Um comentário:

  1. Bela crítica! Foi exatamente assim que saí do cinema, com muitos questionamentos...

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