terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Homem do Futuro


Quem nunca teve vontade de fazer uma viagem ao passado e modificar algo que já aconteceu? Quem nunca sentiu saudades de um tempo em que era mais jovem, desejou reviver uma sensação boa, e percebeu que se fosse agora, poderia ter feito tudo diferente? O Homem do Futuro trata de maneira agradável e bem humorada esta relação do indivíduo com seu passado, presente e futuro. As emoções características de cada tempo e o peso de nossas decisões na definição do que somos hoje.

O filme conta a história do cientista Zero, personagem de Wagner Moura. Um homem frustrado e de poucos amigos que sofreu na juventude a maior decepção de sua vida: ter sido humilhado pela mulher amada Helena, vivida por Alinne Moraes, diante de uma multidão de colegas durante o baile de faculdade. Apesar do talento na profissão, Zero é um adulto triste que transparece na falta de vaidade e de simpatia com o mundo a revolta carregada por mais de 20 anos. Em todos os momentos de sua vida, apenas o pensamento em Helena.

Ao testar seu novo experimento, uma máquina capaz de gerar uma fonte alternativa de energia para o planeta, Zero é inesperadamente transportado para outro tempo. Em uma interessante sequência em que percebe aos poucos a diferença entre o mundo em que vive e aquele no qual se encontra, Zero compreende ter voltado ao passado. Ao invés de uma nova energia, havia criado um instrumento capaz de levá-lo onde se encontrasse sua mente. Agora, em 22 de novembro de 1991, data da humilhação que transformara para sempre sua vida, inclusive seu próprio nome, Zero terá a oportunidade de reviver o “passado”, transformá-lo e criar definitivamente um novo futuro. Aos poucos, porém, percebe que alterar um tempo já vivido não é algo tão simples. Do contrário, modificá-lo pode tornar as coisas ainda mais difíceis e confusas.

Com narrativa desenrolada de forma simples e objetiva através de fragmentos de tempo, a comédia romântica O Homem do Futuro possibilita uma fácil identificação com o espectador, seja pela temática próxima aos nossos anseios, pela simpatia que nos imprime os personagens ou mesmo pela divertida viagem ao passado. Aos jovens da geração anos 80 e 90, representa um retorno à adolescência entre roupas, música, gírias e estilo, ainda que essencialmente confinado às ocorrências de um baile de faculdade. A canção “Tempo Perdido”, sobre a valorização do presente em contraponto ao tempo passado, é inteligentemente incluída na trama. Cantada pelo casal Helena e João (antes de tornar-se Zero) em um momento chave, é repetida em diferentes contextos no desenrolar do filme, e por isso assume significados e sensações distintas. Ora como trilha de uma feliz recordação, ora como prenúncio de uma tragédia anunciada.

Em toda a miscelânea do ontem, hoje e amanhã, a brilhante presença de Wagner Moura imprime uma identificação perfeita com cada distinto momento de seu personagem. Como o tímido e romântico João, que reflete na gagueira toda a insegurança da juventude, temos a alegria e inocência diante da descoberta do amor. Duas décadas após, com o pseudônimo Zero, a expressão frustrada beirando a insanidade. E também em outro retrato do que poderia ter sido, o estereótipo do homem sem escrúpulos e bem sucedido. Em todos os caminhos, a presença de Helena a definir seu destino. É por ela que Zero corre contra o tempo, conhece mais de si mesmo e luta para desfazer um infeliz engano que ganha diferentes proporções à medida que avançamos na narrativa.

Com diálogos inteligentes, ironicamente relacionados à política, ao avanço tecnológico e a aparecimento de celebridades, o filme traz ainda interessantes efeitos especiais ligados ao funcionamento da máquina do tempo e sua capacidade de desintegrar o homem no espaço, mesmo que falhe em deixar claro o determinante deste “aparecer e desaparecer” ao longo da estória.

Finalmente, assistir a O Homem do Futuro é ter a sensação de que somos hoje exatamente o que deveríamos ser. E que sem amarras, sem medo, sem nostalgia, temos plena condição de modificar o que vem pela frente... Afinal de contas, não necessitamos de uma máquina do tempo para perceber que se as coisas são hoje tão complicadas, por vezes é por nossa falta de esforço de apenas querer torná-las mais simples.

Por Rafaella Arruda

6 comentários:

  1. Nossa Irmã, Tõ impressionada. Quero demais ver este filme. Você é demais!!!!

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  2. Irmã linda, obrigada! Tem que ver mesmo! O filme é muito bom!

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  3. Vim parar aqui por indicação do mestre Pablo Villaça via Twitter (também fiz o curso). Não me arrependi. Parabéns de verdade, pela crítica e pela percepção acurada. Você vai longe!

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  4. Que alegria por seu comentário, Vladimir! Muitíssimo obrigada! E um eterno viva à sétima arte!

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