quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lanterna Verde


Nunca fui muito fã de filmes de fantasia, ficção científica ou sobre super heróis. Já assisti a alguns, e até muito bons, mas nunca foram meus preferidos. E mesmo reconhecendo não possuir uma boa base comparativa para perceber esse tipo de produção, ou talvez por isso mesmo, admito que Lanterna Verde foi uma agradável surpresa.

O filme trata de um grupo de guardiões intergalácticos, ou lanternas verdes, que se une pelo poder de um anel para proteger o Universo. É a ele e ao planeta Oa, refúgio dos lanternas, que somos apresentados logo no início. Muitas cores, belíssimos efeitos especiais, de maquiagem (os traços peculiares no rosto de cada um dos guardiões é magnífico) e cortes rápidos que imprimem ritmo veloz ao filme. Entendemos que os guardiões, longe de serem sujeitos simpáticos e sentimentais, assumem uma importante tarefa de manutenção do mundo e enfrentam momentos críticos na luta contra vilões que, pelo poder amarelo do medo, querem dominar o Universo. Na Terra, ainda sem um representante dos lanternas verdes, Hal Jordan, interpretado por Ryan Reynolds, é designado para assumir a missão. Um rapaz simpático, tanto quanto irresponsável, apaixonado por aviões e marcado pela morte trágica do pai durante um teste de pilotagem.

A realidade sobre-humana dos lanternas e a realidade humana de Hal se cruzam a partir da queda na Terra de um dos heróis verdes ferido pelo ataque do grande inimigo Parallax. Levado por acaso ao local do acidente, Hal recebe do agonizante Abin Sur seu anel e a tarefa de assumir a proteção da Terra junto aos outros intergalácticos. Através do anel, Hal adquire força e superpoderes de criação de qualquer objeto a partir do pensamento. Assim, junto aos humanos e aos demais guardiões, Hal Jordan descobrirá a importância e dificuldades de sua missão e assumirá a identidade de um super herói.

Do lado humano, em uma maneira inteligente de integrar o vilão sobrenatural ao mundo tangível de Hal, descobrimos a personificação do mal no cientista Doutor Hector. Contaminado pelo sangue do vilão Parallax ao examinar o corpo já sem vida do extraterreno Abin Sur, Doutor Hector adquire nova personalidade e uma fisionomia que se torna gradualmente bizarra: o cérebro avantajado, as veias sobressalentes e olhos amarelados. Em uma brilhante atuação de Peter Sargaad como o pobre cientista que se torna vilão por acaso, percebemos uma frustração e revolta oriundas de seu lado são, aliadas ao ódio e desejo de dominação inerentes a Parallax. O foco nos olhos amarelos de Hector antes de suas reações violentas tem significativo impacto visual, como na sequência do laboratório em que ele se desvencilha daqueles que tentam controlá-lo. Em suas aparições, o não propriamente vilão Doutor Hector rouba as cenas com sua figura esquisita e atitude vigorosa diante do comportado e previsível Hal Jordan. Talvez seja por isso que a aparente solução final de seu personagem tenha causado em mim estranheza e certa frustração.

Apesar da trama amarrada de forma simples entre bons e maus, derrota e superação, algumas situações que poderiam render bons frutos para a estória perdem-se ao longo da narrativa. Além da relação de Hal Jordan com seu pai e sobrinho, destacada no início do filme e esquecida posteriormente, é frágil a própria interação do espectador com o Universo dos lanternas verdes.

Torna-se clara (seria proposital?) a falta de preocupação do diretor Martin Campbell em criar uma afinidade entre nós e os habitantes do planeta OA. A apresentação quase sempre superficial do ambiente e a falta de sintonia entre os lanternas, alguns extremamente frios, caricatos e conservadores, como Sinestro, são um convite automático a restringirmos nossa torcida a Hal, e ainda assim, apenas no momento em que a Terra encontra-se em perigo, jamais antes disso. Assim, a dimensão universal da causa dos lanternas verdes perde força ao longo da estória. Não envolve... Por outro lado, os questionamentos acerca do poder da vontade diante do medo transcendem a esfera dos lanternas e alcançam os dilemas humanos. Ao se dar conta disso é que Hal Jordan enfrenta as próprias limitações e reconhece a força de sua coragem. De fato, algo imprescindível para a sobrevivência de qualquer super herói.

Por Rafaella Arruda

2 comentários:

  1. Parabéns, bela leitura do filme! Do admirador, Xande.

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  2. Bom texto. Só uma perguntinha: você acha que a confessionalidade do primeiro parágrafo é mesmo necessária? Abraço do E.

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