Tendo como cenário a bela e iluminada capital
italiana em tons pastéis, Para Roma, com amor, de Woody Allen, nos apresenta
quatro diferentes estórias: A chegada dos pais da noiva à cidade para conhecer
o futuro genro e sua família italiana; o desencontro de recém-casados após a
esposa perder-se nas ruas em busca de um cabelereiro; a visita da aspirante à
atriz que passa uns dias na casa da amiga e de seu namorado; e a transformação
na vida de um pacato homem e sua família após ele ser reconhecido (ou seria
conhecido?) como celebridade.
Intercaladas em uma montagem eficiente, o que
dá a sensação de se passarem simultaneamente, as estórias jamais se cruzam. E
os tempos tampouco se assemelham. O que há de comum entre os personagens, aparentemente
tão corriqueiros, são as situações absurdas, ou no mínimo impensadas, que
enfrentam e provocam.
É assim quando o “pai da noiva” escuta o sogro da filha
cantando ópera embaixo do chuveiro e decide lançá-lo no mercado da música,
extasiado com a potência de sua voz. Ou quando a ingênua e recém-casada moça do
interior se perde nas ruas de Roma, enquanto seu noivo, no quarto de hotel,
recebe a visita inesperada de uma garota de programa que o confunde com um de
seus clientes. Em outro canto da cidade, um jovem arquiteto se apaixona pela
sempre descabelada e falante amiga da namorada, tendo nos ombros o fantasma
palpiteiro do que seria no futuro. Por fim, um cidadão comum, trabalhador e pai
de família, passa a ser tratado como celebridade e ganha as páginas da mídia
dando depoimentos sobre a forma de se barbear e preparar a própria torrada.
“Para Roma, com amor” possui um ritmo
agradável, com trilha sonora romântica e divertida. Os diálogos precisos e,
quase sempre, hilários, compõem muitos dos personagens e nos revelam nuances de
suas personalidades até então impensadas do ponto inicial da narrativa. É assim
que conhecemos os anseios do aposentado, do tenor, do casal inocente, do homem
maduro saudoso da juventude e do pai de família diante de uma fama insustentável.
Brincando com a imprevisibilidade do amor e
das loucuras do dia a dia, Woody Allen remete às mais diferentes situações e é
na riqueza destas e dos personagens que também encontramos um pouco de nós. Assim,
quase sem perceber. E de forma leve.
Por Rafaella Arruda
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